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      Camilo Irineu Quartarollo

      Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

      101 artigos

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      O milagre de Haddad

      Claro que Haddad não é Jesus nem madre Teresa

      Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

      O ministro já expôs à exaustão a reforma tributária, esmiuçada, seguindo o princípio da justa distribuição na proporção da riqueza de cada um. Ricos que não pagavam impostos sobre aeronaves, iates, herança e outros am a pagar, pobres são isentos de impostos na cesta básica. O projeto traz inclusive o imposto do pecado, aquele que incidirá sobre produtos prejudiciais à saúde. Claro que o ministro da Fazenda não fez isso sozinho, tem uma equipe, estudiosos e políticos prós e contra o governo costurando, mas a resistência é exatamente daqueles que têm muitos milhões. Como convencê-los? Os ricos, mui ricos, embora concordem que os pobres não paguem impostos, não querem pagar também nem um centavo sequer pelo seu jatinho e estereotipam o ministro como ‘Taxad’.

      Eu volto a fazer uma analogia com a perícope da Multiplicação de pães e peixes. Apesar de algumas desaprovações fraternas do meio religioso, o farei. O milagre de Jesus não foi o de multiplicar, mas o de mexer com os brios da compaixão humana. Para evitar brigas teológicas, a multiplicação nem era necessária. Assim também como no mundo atual há alimento suficiente para todos, embora se joguem no lixo melancias, batatas, cebolas, ovos e outros produtos para o preço não baixar. 

      George Lamsa, exegeta assírio, investigou meticulosamente e traduziu a Bíblia ao aramaico, sua língua nativa. Observa que mesmo na contemporaneidade da região nenhum peregrino oriental se põe a caminho sem camuflar a provisão alimentar, pondo pães de reserva nas dobras das vestes e nos bolsos profundos, escondidos, e esses andejos não dividem e negam que tenham alimento consigo. Seus ancestrais, porém, quando viram Jesus repartir com generosidade seus únicos pães e peixes teriam se constrangido e, assim, repetiam o gesto da partilha do rabino com os mais pobres dos pobres, coisa que se podia ver pelas vestimentas rudes e puídas dos necessitados. O pregador conhecia os costumes do povo daquelas bandas, como Lamsa e, depois de falar a eles, o mestre pôde encerrar com uma lição prática. Falara por muito tempo e ninguém ainda comera ou bebera, precisavam comer para não desfalecerem no caminho de volta, embora muitos embevecidos pelo encontro ficariam pela noite adentro para ouvir mais. 

      Os discípulos já cansados e desatentos nem pensaram na possibilidade da partilha e somente itiam o que viam concretamente na frente deles, ou seja, pouquíssimos pães e peixes para eles mesmos. A solução fácil a um mágico seria a de “multiplicar” alimentos com um estalo de dedos, mais cômodo que repartir o seu com os outros. Os copistas tradutores de Alexandria tarjaram a cabeça da perícope na tradução ao grego, conforme o tema que supunham mais conveniente, multiplicação. No corpo do texto bíblico não há sequer a palavra multiplicação, mas a ideia de que a partilha justa sacia a todos e ainda sobram cestos.

      Claro que Haddad não é Jesus nem madre Teresa, mas aprovar essa reforma será um o em fazer a nação mais justa, participativa e decente. Seria um milagre?

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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