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      Luis Pellegrini

      Luís Pellegrini é jornalista e editor da revista Oásis

      25 artigos

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      O futuro chegou: crise migratória e a climática são a prova

      Afirmar que “o futuro chegou” é reconhecer que os desafios anteriormente imaginados como distantes já se impõem como realidade presente

      Floresta desmatada (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

      A crise climática e a migratória estão interligadas. Esses fenômenos deixaram de ser projeções futuras e aram a ser parte do cotidiano no Brasil e em muitas outras partes do mundo, evidenciando que a humanidade já está vivendo o que muitos chamavam de “crises do futuro”. O número crescente de refugiados ambientais, o aumento das desigualdades, a intensificação de disputas geopolíticas por recursos naturais e a necessidade urgente de adaptação e mitigação climática são marcas claras desse novo tempo.

      Assim, afirmar que “o futuro chegou” é reconhecer que os desafios anteriormente imaginados como distantes já se impõem como realidade presente, exigindo respostas políticas, sociais e tecnológicas imediatas e inovadoras. Uma coisa está clara: A resposta correta não é o populismo, mas sim a capacidade da política de pensar em novas formas de solidariedade.

      Ainda estamos na primeira metade do século 21, mas a trajetória já é clara: as manifestações climáticas extremas estão se tornando cada vez mais frequentes e graves, e muitas partes do mundo estão se tornando inabitáveis. Em diversos continentes, os gases de efeito estufa aprisionam energia extra na atmosfera, o que faz com que as temperaturas ultraem os 50°C.

      Ao mesmo tempo, as ondas de calor já são o perigo meteorológico mais mortal no mundo, matando mais de 175 mil pessoas por ano apenas na Europa. Do noroeste da Itália ao nordeste das Filipinas, tempestades violentas e inundações provocam regularmente devastação, destruindo vidas e bens. Lembram-se do que aconteceu nos últimos anos no Rio Grande do Sul, na Amazônia, e em muitos outros lugares do nosso país? 

      Há mais de um ano, as temperaturas médias globais ultraaram em 1,5°C a média da era pré-industrial — o chamado limite de segurança que os governos concordaram em não ultraar — e as temperaturas batem novos recordes a cada mês. Como resultado, agrava-se a disputa por recursos, por zonas habitáveis e cultiváveis, por alimento e por água. Em muitos países, a incessante devastação provocada pelos nossos sistemas meteorológicos energizados força os habitantes a fugir voluntária ou involuntariamente de condições inabitáveis, gerando fenômenos de desenraizamento. Até 2070, prevê-se que entre 3 e 6 bilhões de pessoas poderão ar a viver fora da chamada “zona climática habitável”, a faixa de temperatura que há milênios sustenta as atividades humanas e à qual adaptamos a agricultura e nossas civilizações como um todo. Consequentemente, todos os que sobreviverem até lá estarão entre esses bilhões de pessoas ou terão que acolhê-las.

      À medida que vastas extensões do mundo se tornam inabitáveis, seus habitantes se deslocarão para áreas mais seguras, inicialmente dentro de seus próprios países e depois para além das fronteiras, determinando uma massiva redistribuição não apenas de pessoas, mas também de capitais, recursos e produtos industriais, alimentares e outros. Devido à proximidade da zona ártica, o extremo norte do planeta estará teoricamente mais protegido, mas na verdade nenhuma parte do planeta escapará aos impactos negativos deste mundo mais quente. 

      Trata-se de um fenômeno já em curso. Em todo o mundo já existem milhões de deslocados por causa do clima. A mobilidade humana provocada pela crise climática é um problema planetário que afetará todos os países. É, portanto, necessário enfrentar sem subterfúgios a magnitude da crise climática planetária com uma abordagem pragmática e coordenada por municípios, estados, regiões e organizações globais, que devem urgentemente descarbonizar e adaptar nossas sociedades e infraestruturas às condições extremas.

      Devemos ser honestos também em relação às migrações provocadas pelo clima: diante das condições cada vez mais inabitáveis no mundo, essas migrações são inevitáveis. Em vez de fingir que podemos detê-las, devemos aprender a geri-las. Até hoje, porém, a resposta da maioria dos governantes (sobretudo na Europa e nos Estados Unidos) a essa crise migratória é deplorável: em vez de se concentrarem nos fatores que determinam os deslocamentos em massa — caos climático, degradação ambiental e pobreza — culpam os próprios migrantes. No que diz respeito às migrações, a narrativa é agora controlada pelos populistas à la Trump, que as retratam como um fenômeno negativo, enquanto os partidos moderados e de esquerda deixam que façam isso. As forças progressistas são tímidas e não conseguem contrapor a essas retóricas tóxicas os fatos baseados em evidências. Mas seria bom que todos entendessem que este não é o momento de se refugiar no nacionalismo populista.

      Nestes primeiros meses do ano vimos como políticas hostis em relação às migrações ou tarifas alfandegárias, usadas para limitar os movimentos transfronteiriços de pessoas e mercadorias, prejudicam as relações úteis com países parceiros, desaceleram o crescimento, aumentam a inflação e as taxas de juros, corroem a força das moedas e enfraquecem as economias dos países e do mundo. A promessa populista trumpiana de “tornar a América grande novamente” colidiu com a dura realidade: a confiança dos consumidores desaba e os economistas alertam para o risco de uma recessão paralisante. Donald Trump — assim como vários outros líderes da direita e extrema-direita — nega a crise climática e se empenhou em cortar financiamentos para pesquisas sobre o clima, para projetos de energias renováveis e para a agência federal de gestão de emergências, que prestava socorro em caso de desastres climáticos. Além disso, deporta a mão de obra imigrante, essencial para a economia em geral, o que também prejudica o turismo, pois o medo dessas medidas afasta visitantes. No mundo todo, os partidos populistas permanecem inertes, e é digno de nota o fato de que até agora a resposta à presidência Trump tenha sido uma queda generalizada do apoio a formações de extrema-direita em outras partes do mundo: vários governantes de centro e de direita, que no ado eram amigos da direita norte-americana, agora se distanciam dela.

      É, portanto, necessária uma nova narrativa pragmática, baseada no reconhecimento dos pontos fortes da cooperação internacional contra ameaças comuns. As pesquisas indicam que a esmagadora maioria das pessoas está muito preocupada com o agravamento da crise climática e gostaria de ver ações mais incisivas. Mas só a colaboração nos permitirá enfrentar essas crises planetárias, pois nossas sociedades se baseiam na troca de ideias, recursos, produtos, culturas e, naturalmente, de pessoas. O trabalho humano é o maior recurso econômico de que dispomos.

      Portanto, para nos atermos ao título deste artigo, podemos afirmar sem erro que esses fenômenos deixaram de ser projeções futuras e aram a ser parte do cotidiano, não apenas no Brasil mas em todo o mundo, evidenciando que a humanidade já está vivendo o que muitos chamavam de “crises do futuro”. O número crescente de refugiados ambientais, o aumento das desigualdades, a intensificação de disputas geopolíticas por recursos naturais e a necessidade urgente de adaptação e mitigação climática são marcas claras desse novo tempo.

      Afirmar que “o futuro chegou” é reconhecer que os desafios anteriormente imaginados como distantes já se impõem como realidade presente, exigindo respostas políticas, sociais e tecnológicas imediatas e inovadoras.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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