window.dataLayer = window.dataLayer || []; window.dataLayer.push({ 'event': 'author_view', 'author': 'Moisés Mendes', 'page_url': '/blog/mourao-e-os-militares-irrelevantes-no-golpe-que-desmoralizou-as-forcas-armadas' });
TV 247 logo
      Moisés Mendes avatar

      Moisés Mendes

      Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

      965 artigos

      HOME > blog

      Mourão e os militares irrelevantes no golpe que desmoralizou as Forças Armadas

      “O ex-vice é o melhor exemplo dos que ficaram de fora porque eram desimportantes para os próprios golpistas”, escreve o colunista Moisés Mendes

      Hamilton Mourão (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

      O comandante da Marinha é o personagem do primeiro constrangimento fardado na fila de depoimentos previstos pelos processos contra os golpistas. O almirante Marcos Sampaio Olsen pediu a Alexandre de Moraes para sair da fila.

      Não queria ser testemunha do almirante Almir Garnier Santos, o único dos três comandantes a ficar com Bolsonaro até o fim em 2022 – mesmo que nem Bolsonaro, já com fuga programada para os Estados Unidos, estivesse mais interessado no golpe.

      Alexandre de Moraes negou o pedido e Olsen foi ouvido nessa sexta-feira. O militar sofre um abalo pessoal que marca mais um arranhão na imagem das Forças Armadas. É mais do que o estrago do me-deixem-fora disso. É a imposição do sistema de Justiça em meio à fragilização de militares importantes ou irrelevantes para que se compreenda o que aconteceu.

      Vocês, mesmo que nada representem, terão de dizer o que fizeram ou deixaram de fazer na primavera e no verão de 2022. Essa é a ordem de Moraes. Muitos terão que dizer o que estavam fazendo também no outono e no inverno, bem antes do desfecho desastrado do golpe em 8 de janeiro.

      Mas muitos não têm o que falar. Olsen alegou que não teria nada a dizer. Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, foi na mesma linha. Mourão, sabotado como vice, foi empurrado no governo, por decisão de Bolsonaro, para a função de presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal.

      Pouco antes de ir embora, com Lula já eleito, o general ganhou essa manchete na Folha: “Mourão lança plano para Amazônia a 16 dias de deixar cargo e propõe medidas que governo desmontou”.

      O general agora senador talvez não tenha mesmo nada a falar sobre o golpe e sobre o que deixou de fazer na Amazônia. Não sabia das conversas em torno do plano golpista e sobre qualquer coisa, do varejo ou do atacado, dentro do governo.

      Mourão não sabia de nada, mas foi convocado como testemunha de Bolsonaro, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto. O general é um caso de distanciamento e ausência total em relação a tudo e a todos.

      Braga Netto, que chamou de cagão o então comandante do Exército, Freire Gomes, não teria nem isso a dizer sobre o Mourão. O general era uma paisagem no governo, enquanto a Amazônia era tomada por grileiros, traficantes e garimpeiros e o golpe era tramado.

      Outros poderão dizer o mesmo, que não sabiam de nada, enquanto o general Eduardo Pazuello destruía a saúde pública na pandemia e pelo menos oito coronéis participavam dos grupos de vampiros que tentavam negociar vacinas superfaturadas. Eles são citados no relatório da I do Genocídio e estão impunes até hoje.

      Militares de alta patente que ainda não foram, mas um dia serão ouvidos em outros processos trouxeram as muambas das joias das arábias e outros colegas militares tentaram vender as mesmas joias nos Estados Unidos.

      Também eram militares os que tentaram fraudar o cartão de vacinação de Bolsonaro, enquanto o próprio Bolsonaro, o beneficiado, nada sabia das fraudes, pelo que a PGR concluiu agora.

      Marcos Sampaio Olsen, Mourão e todos os que já depam nada sabiam, com exceção de Baptista Júnior (ex-chefe da Aeronáutica) e de Freire Gomes (ex-chefe do Exército). Essa será a linha dos depoimentos das 82 testemunhas arroladas. Não sei, tô por fora, não vi, não ouvi e não quero saber.

      Mourão não viu a minuta do golpe, Olsen não viu movimentação de tropas sob seu comando e quase todos os que virão na sequência repetirão a mesma ladainha. Não necessariamente para livrar Bolsonaro e os golpistas, mas para se colocarem como figuras distantes do teatro do golpe.

      O resumo, se é que precisa, pode ser esse. Muitos, por falta de condições para protagonizar qualquer coisa, nunca foram chamados para se juntar aos golpistas. Outros, que participaram, provam agora, pela evolução de investigações, denúncias da PGR e processos no STF, que eram nulidades para protagonizar conspirações.

      Nunca antes os militares foram tão desmoralizados, dessa vez como incapazes de ajudar Bolsonaro a se reeleger e, já derrotados, como incompetentes para segurar o plano de um golpe que deixou rastros por toda parte.

      Quando Mourão diz que nunca viu nada escrito sobre o plano, que não participou de reuniões, que não conhece golpistas que o citaram, Paulo Gonet e os ministros do Supremo devem considerar que ele está mesmo falando a verdade.

      Os militares ‘neutros’, chamados como testemunhas de golpistas, podem ser vistos como a fila dos desimportantes, dos que de fato não viram nada, na maioria das vezes mais por irrelevância do que por atitude legalista.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados