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      Leonardo Attuch

      Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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      Lula e Xi precisam ter uma conversa séria na cúpula China-Celac

      Assim como o Brasil precisa da indústria e dos investimentos chineses em infraestrutura, a China precisa do mercado de consumo brasileiro

      Presidente Lula e Xi Jinping na cerimônia de de atos bilaterais, no Palácio da Alvorada. Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

      A viagem do presidente Lula a Honduras, nesta quarta-feira, para a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), seguida do encontro China-Celac em Pequim, no mês de maio, abre uma histórica janela de oportunidade que não deve ser desperdiçada. A relação entre Brasil e China, que já é gigantesca do ponto de vista comercial, precisa de uma requalificação urgente: temos de superar o modelo de mera troca de soja e minério de ferro por produtos de alto valor agregado e caminhar rumo a um relacionamento baseado em reindustrialização, investimentos em infraestrutura, transferência de tecnologia e novas parcerias na área ambiental, como a criação de um mercado sino-brasileiro de créditos de carbono.

      O pano de fundo desse novo momento é evidente. A guerra comercial entre Estados Unidos e China, intensificada pelo presidente estadunidense Donald Trump, produz impactos globais relevantes. Neste contexto, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior tem alertado para a obsessão americana em conter a expansão chinesa, o que leva Pequim a redirecionar suas exportações para mercados como o brasileiro. O risco, se o governo Lula não agir de forma assertiva, é o Brasil virar mero receptor de mercadorias “made in China”, sem desenvolvimento industrial e sem o fortalecimento de nossa própria base produtiva.

      A política comercial e industrial brasileira, portanto, precisa se reposicionar diante dessa realidade. O presidente Lula, que hoje desfruta de legitimidade internacional, especialmente no mundo em desenvolvimento, deve usar todo o seu capital político para propor um acordo que vá além das trocas comerciais, construindo, de fato, uma parceria de valor. A China precisa do mercado brasileiro e de um aliado confiável – e quem melhor do que Lula, após a retomada democrática no Brasil, para costurar esse novo paradigma?

      Não se trata de romper com os Estados Unidos ou de entrar numa lógica de blocos excludentes – muito pelo contrário. O Brasil tem de manter o pragmatismo responsável, em que o interesse nacional e a busca de nosso desenvolvimento falem mais alto. Mas, para isso, é fundamental estabelecer parâmetros claros com Pequim. O debate sobre nearshoring (ou seja, a possibilidade de algumas cadeias de produção chinesas se instalarem em países mais próximos de seu mercado consumidor) mostra que há espaço para trazer parte da indústria da China para a América Latina, especialmente em setores estratégicos como automóveis, linha branca, energia, semicondutores e infraestrutura digital.

      Um projeto assim exige, porém, contrapartidas sólidas: transferência de tecnologia, desenvolvimento conjunto de pesquisa e inovação, construção de cadeias produtivas locais e, sobretudo, um programa nacional de reindustrialização. Com o projeto da “Nova Indústria Brasil”, o país tem a oportunidade de construir uma política industrial compatível com o tamanho de sua economia, para gerar empregos de qualidade, fortalecer as universidades e os institutos de pesquisa e diversificar suas exportações.

      Nesta equação, o presidente Lula não pode cair na armadilha de “brincar de livre comércio”, como diz Paulo Nogueira Batista. O mundo voltou a ser protecionista, e nossos principais parceiros ocidentais – Estados Unidos e União Europeia – não dão sinais de que irão flexibilizar suas barreiras tarifárias ou regulatórias. O comportamento chinês, por sua vez, sempre colocou os interesses de Pequim em primeiro lugar, o que é natural em qualquer política de Estado. Daí a importância de ter clareza sobre nossos próprios interesses.

      A cúpula China-Celac, que ocorrerá logo após a reunião em Honduras, pode servir justamente para consolidar uma plataforma conjunta, reunindo países latino-americanos em torno de uma estratégia de desenvolvimento com protagonismo na indústria, em investimentos em infraestrutura, energia limpa e alta tecnologia. Quem sabe até sonhar com projetos que beneficiem toda a região, como ferrovias de integração, corredores logísticos e parcerias em pesquisa e inovação.

      O redesenho da relação sino-brasileira

      Neste momento, a China enfrenta a pressão externa dos Estados Unidos e também o desafio de manter seu crescimento interno. Para Xi Jinping, nada melhor do que ter a América Latina – em especial o Brasil – como parceira estratégica no fornecimento de recursos e também no comércio de produtos industriais e serviços de alto valor. Do lado brasileiro, é hora de pensar grande, sentar à mesa e negociar uma parceria real, em pé de igualdade, para que o enorme mercado consumidor e a diversidade de nossa economia sirvam como moeda de troca para exigir investimentos e transferência de tecnologia.

      Lula chega a essas cúpulas com a missão de propor esse redesenho das relações sino-brasileiras, somando esforços aos demais países da região. Precisamos, sim, de investimentos em infraestrutura e de um relacionamento comercial vigoroso com a China. Mas, acima de tudo, precisamos de uma estratégia de longo prazo para que esses investimentos gerem reindustrialização, inclusão social e prosperidade econômica. Caso contrário, continuaremos a ser meros exportadores de produtos básicos e importadores de produtos industrializados – presos a um ciclo de dependência que perpetua a condição do Brasil como economia periférica.

      O mundo mudou, e o Brasil deve aproveitar essa chance de se reposicionar. Se Lula e Xi tiverem a coragem e a lucidez para uma conversa de estadistas na cúpula China-Celac, poderemos inaugurar um capítulo inédito da relação sino-brasileira, em que a palavra-chave seja desenvolvimento mútuo. Esse é o caminho para uma globalização mais equilibrada e um verdadeiro destino compartilhado entre os povos.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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