Jesus não manifesta nenhuma pretensão partidária, em absoluto

Para Frei Betto, Jesus foi preso político. O rabino é aclamado nas sinagogas, aldeias e no Templo, e forma seguidores. Devido ao prestígio crescente, os sacerdotes tentam trazê-lo ao grupo, cooptá-lo.

 Roma e os sacerdotes temem grupos armados remanescentes, como o de Barrabás, os quais assaltam as estradas, casas ricas e o próprio Templo. Os zelotas ou sicários atacam os carregamentos vindos da Síria, Líbano, Egito e de outros reinos. O caminho era a extensa Via Maris, por cuja via se chega até o porto de Cesareia, e ia pelo Mar Mediterrâneo até o destino final em Roma.

Jesus não manifesta nenhuma pretensão partidária, em absoluto. Todavia, percebe os meandros e causas da falta de políticas públicas, cuja higiene era a pior. A lepra se juntava com a malária e desnutrição. Os doentes coçavam-se até arderem os olhos, vermelhos, sujos, contaminados e cegados. O uso que Jesus fazia de óleos davam alívio às dores e os conselhos simples animavam pessoas desalentadas. Doenças venéreas eram tidas por castigo divino, maldição, por infringir normas morais. Estavam psicologicamente afetados de dar dó. A relação com esse líder cuidadoso, médico, curava-lhes as feridas e dava-lhes um alento num messias prometido.

Jesus critica os que se aproveitam da boa-fé e direitos da população. Fala contra maus maridos, escribas, sacerdotes e subliminarmente contra a espoliação de Roma, cujo denário não interessa à economia nacional, por isso devolvê-lo a quem o cunhou. Na época, muitas mulheres “caíam na vida” pelo abandono dos maridos, os quais lhes davam carta de divórcio ou de repúdio, de forma unilateral. Os escribas, advogados da época, aproveitavam-se e devassavam as casas das viúvas e repudiadas. Jesus não é ingênuo nem ivo e isso reforça sua imagem messiânica.

O centro do poder está no Templo de Herodes, que não é igreja como pensamos, mas um centro de negócios próprios de vendas de animais e troca de moedas, banco. Desde há muito se reclamavam do comércio dentro do Templo de Jerusalém, onde foram instalados mesas a vistas grossas dos sacerdotes, que lucravam. Jesus, com o apoio popular, se insurgiu contra esse estado de coisas e expulsou os negociantes. Jesus mexeu no bolso deles.

No campo religioso, fazia eco entre o povo o rompimento dos sacerdotes com a antiga Aliança. As sinagogas, escolas, tornam-se mais adequadas para as reuniões, discussões e formação, tendo em vista o declínio da tradição frente ao poder econômico da obra suntuosa do “grande Herodes”. Séculos mais tarde, sob Constantino a igreja cristã cairia nessa mesma esparrela da corrupção, com basílicas ricas e ouro.

Caifás conseguiu maioria para aprovar a morte de Jesus, e antes que voltasse a tumultuar na páscoa, dia de maior afluxo de peregrinos ao Templo. Pilatos não vê nenhum crime no acusado e não quer julgar ou dar pena capital ao réu. Todavia, os sacerdotes ameaçam-no. Pilatos cede e sentencia o réu à cruz por crime de sedição.

O real motivo da sentença não é blasfêmia, mas por atrapalhar os “negócios lucrativos” do Templo, centro do poder político e econômico de Israel. Jesus é preso político.