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      Sergio Ferrari

      Jornalista latino-americano radicado na Suíça. Autor e coautor de vários livros, entre eles: Semeando utopia; A aventura internacionalista; Nem loucos, nem mortos; esquecimentos e memórias dos ex-presos políticos de Coronda, Argentina; Leonardo Boff, advogado dos pobres etc.

      28 artigos

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      Inteligência Artificial Generativa. Os riscos sociais da nova era criativa

      Problema se agrava quando o Estado é fraco, ausente ou tem sido destruído por dirigentes que o negam ou o consideram um inimigo a ser combatido

      Ilustração de Inteligência Artificial (IA) 14/12/2023 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração/Arquivo (Foto: Dado Ruvic)

      *Tradução: Rose Lima

      O que até ontem foi pura ciência e ficção, agora é realidade cotidiana. Máquinas e programas que criam conteúdos próprios e que ameaçam milhões de postos de trabalho.

      Um em cada quatro empregos no mundo está exposto à Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa). Isso é revelado por um estudo conjunto recente conduzido por especialistas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Instituto Nacional de Pesquisa da Polônia (NASK). Publicado no final de maio como Generative AI and Jobs: A Refined Global Index of Occupational Exposure (A IA generativa e os empregos: um índice global atualizado de exposição ocupacional) (https://www.ilo.org/publications/generative-ai-and-jobs-2025-update), este estudo incorpora um novo índice global sobre o impacto negativo que esta forma revolucionária de “inteligência” pode ter nos empregos. E oferece aos líderes de cada país uma ferramenta importante para antecipar e gerenciar esse impacto, que já está afetando, dramaticamente, vastos setores ao redor do mundo.

      O que é IA generativa? - Ao contrário da Inteligência Artificial (IA) tradicional, que se concentra na análise e classificação de informações, esse novo fenômeno aproveita todas as ferramentas da IA para criar conteúdos totalmente novos.

      Esses conteúdos podem ser textos, imagens, vídeos, códigos, músicas ou designs que até agora só podiam ser produzidos pela mente humana. Como destaca a Escola de Audiovisuais The Core, sediada em Madri, "sua presença é sentida em todos os lugares: do entretenimento e moda ao marketing e desenvolvimento de software". Por outro lado, e fundamentalmente, "está revolucionando o mundo de maneiras que até recentemente pareciam saídas de ficção científica. Não se trata mais apenas de máquinas analisando dados: agora elas também podem criar conteúdo, como se tivessem criatividade própria".

      A importância de tudo isso, destaca o The Core, é como a IA Generativa está mudando “a maneira como trabalhamos, criamos e inovamos”, pois promove “negócios mais ágeis, designers com novas ferramentas ao alcance das mãos e programadores que agora têm um copiloto inteligente ajudando-os a construir mais rápido e melhor”. Por essa razão, ele conclui, “a IA Generativa não está apenas transformando indústrias; ela está moldando uma nova era criativa”.

      A IA Generativa lida com padrões e grandes volumes de dados. Manipulado criativamente, esse grande volume de informações permite gerar resultados que parecem feitos por humanos, mesmo sendo completamente artificiais. É uma tecnologia que tem evoluído rapidamente e está cada vez mais integrada às ferramentas do dia a dia.

      No entanto, processos mais rápidos e maior agilidade de produção nem sempre correspondem a melhorias nas condições sociais e de trabalho, como observa o The Core. Isso pode ser visto, por exemplo, no impacto dos caixas eletrônicos em supermercados, máquinas que acarretam cada vez mais perdas de empregos para as pessoas que até recentemente realizavam essa tarefa. O mesmo vale para sistemas de tradução inteligentes, um golpe fatal para intérpretes e tradutores. Na indústria gráfica, o avanço de programas de design sofisticados está quase destruindo completamente até mesmo as versões mais avançadas de tipografia e impressão. Praticamente não há atividade humana a salvo dessa nova dinâmica.

      Empregos: riscos e desafios - O estudo da OIT incorpora um novo índice que significa um fato relevante. Esse índice representa a avaliação global mais detalhada alcançada até o momento sobre como a IA Generativa pode remodelar o mundo do trabalho. Ele oferece uma visão única —e diferenciada— de como o emprego pode ser transformado em diferentes países. Para isso, combina dados de quase 30.000 tarefas ocupacionais com validação de especialistas, pontuação assistida por IA e microdados harmonizados da OIT. (https://www.ilo.org/publications/generative-ai-and-jobs-2025-update).

      Ao apresentar o estudo, Paweł Gmyrek, autor principal, afirmou que ela vai além da simples teoria para construir uma ferramenta baseada em empregos reais. Gmyrek, que está na OIT desde 2008, é doutor em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade de Genebra (Suíça) e mestre pela Escola de Economia de Varsóvia (Polônia). Ao combinar a perspectiva humana, a revisão especializada e modelos de IA Generativa, foi criado um método replicável que pode ajudar os países a avaliar riscos e responder com mais precisão.

      A Escola Espanhola de Audiovisuais, que reconhece as contribuições da Inteligência Artificial, também adverte sobre potenciais riscos e perigos. E alerta sobre os desafios éticos, de segurança e sociais associados à IA Generativa.

      Entre esses riscos, enumera as deep fakes: vídeos hiper-realistas gerados por IA que fazem parecer que alguém disse ou fez algo que nunca aconteceu. Eles são usados em campanhas de desinformação, fraudes ou até mesmo em chantagens, e representam uma ameaça à confiança pública e à segurança individual.

      A IA Generativa também pode facilitar o phishing avançado, uma técnica que permite que um criminoso cibernético crie e-mails falsos altamente convincentes que ele envia a um usuário fingindo ser uma entidade legítima (rede social, banco, instituição pública, etc.) com o objetivo de roubar informações privadas, cobrar dinheiro ou infectar seu dispositivo. Além disso, pode ser usado para espalhar notícias falsas ou manipular conteúdo para fins maliciosos.

      Esses métodos têm sido cada vez mais usados nos últimos anos em campanhas eleitorais e na vida política em geral para desacreditar um candidato concorrente ou uma força rival. Essas formas generalizadas de manipulação digital podem ameaçar o próprio significado da democracia.

      Além disso, na mesma linha do estudo da OIT, a Escola Superior de Audiovisuais destaca o impacto igualmente significativo da IA no mercado de trabalho em rápida mudança. Ao mesmo tempo em que cria novos empregos e aumenta a produtividade, também substitui tarefas humanas em diversas áreas, como escrita, design e programação.

      No âmbito ambiental, há um número crescente de estudos que comprovam o impacto nocivo do uso da Inteligência Artificial na saúde do planeta. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirma que “há um lado negativo na explosão das tecnologias de IA e sua infraestrutura associada”, conforme demonstram os resultados de vários projetos de pesquisa. E o PNUMA destaca: “A proliferação de data centers que abrigam servidores de IA produz resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos. Consomem grandes quantidades de água, que é cada vez mais escassa em muitos lugares. Dependem de minerais essenciais e elementos raros, que muitas vezes são extraídos de forma insustentável. E consomem enormes quantidades de eletricidade, emitindo mais gases de efeito estufa que aquecem o planeta”. (https://www.unep.org/es/noticias-y-reportajes/reportajes/la-ia-plantea-problemas-ambientales-esto-es-lo-que-el-mundo-puede)

      O papel do Estado - O impacto da IA Generativa variará significativamente entre regiões geográficas e setores, dependendo de três fatores principais: as limitações tecnológicas de cada país, a carência de infraestruturas produtivas e seus déficits de habilidades, ou seja, suas dificuldades em formar e treinar recursos humanos. Políticas neoliberais extremas em muitas partes do mundo acentuam o impacto negativo desses fatores.

      O estudo OIT-NASK também prevê que os empregos istrativos serão os mais vulneráveis porque, pelo menos teoricamente, muitas de suas tarefas específicas podem ser automatizadas. O mesmo pode acontecer com empregos nos setores de mídia, software e finanças.

      Nesse novo cenário que se perfila de uma maneira irreversível, as políticas que orientam as transições digitais serão essenciais para determinar até que ponto os trabalhadores poderão permanecer em ocupações transformadas pela IA Generativa e como essa transformação afetará a qualidade do emprego. A OIT insta governos, organizações de empregadores e sindicatos a participarem no diálogo social para elaborar estratégias proativas e inclusivas que melhorem a produtividade e a qualidade do emprego, especialmente nos setores mais expostos à IA Generativa.

      Em última análise, o maior ou menor impacto negativo dessa nova dinâmica científica e social sobre o bem-estar da comunidade humana dependerá da vontade política de seus líderes e dos Estados de legislar adequadamente, estabelecer limites e esclarecer o que é permitido ou não. O problema se agrava quando o Estado é fraco, ausente ou tem sido destruído por dirigentes que o negam ou o consideram um inimigo a ser combatido.

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      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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