window.dataLayer = window.dataLayer || []; window.dataLayer.push({ 'event': 'author_view', 'author': 'Pedro Benedito Maciel Neto', 'page_url': '/blog/ganhamos-o-oscar-e-agora' });
TV 247 logo
      Pedro Benedito Maciel Neto avatar

      Pedro Benedito Maciel Neto

      Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

      174 artigos

      HOME > blog

      Ganhamos o Oscar. E Agora?

      Agora devemos apoiar ainda mais todas as formas de expressão artística: música; dança; pintura; escultura; teatro; literatura; cinema e fotografia

      Walter Salles (Foto: Reuters/Carlos Barria)

      Um dos assuntos de hoje é o filme de Walter Salles “Ainda estou aqui”, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, indicado e vencedor de dezenas de prêmios no Brasil e no mundo afora, um orgulho para todos nós.

      Não me arrisco a fazer uma análise técnica do filme, há gente muito mais qualificada do que eu, minha abordagem será outra, vou comentar com o leitor o que ouvi de uma pessoa importante aqui de Campinas: “esse Rubens Paiva era um comunista; levava dinheiro para o pessoal do VPR-Palmares; era um empresário corrupto, ele ganhava obras na base da corrupção”.

      Quando eu era jovem, ao ouvir uma afirmação como essa, que tem claro objetivo de desqualificar um filme que apresenta às novas gerações a face mais violenta das ditaduras militares, eu ficava indignado e “metralhava” argumentos contrários e arrumava uma penca de desafetos; agora que tenho cartão da EMDEC para estacionar em vaga de idoso, apenas lamento que o revisionismo e a ignorância sejam tão próximos e sigam capazes de semear tanto mal.

      O livro e o filme não tratam da orientação ideológica, nem da correção ética de Rubens Paiva, mas apresentam, de forma delicada, emocionante e emocionada, os efeitos do arbítrio na vida de uma família que foi obrigada a sepultar seus sonhos e lutar nas trincheiras do silêncio por décadas.

      Mas vale a pena esclarecer, a quem ainda tem dúvida: o engenheiro e deputado Rubens Paiva, morto pela ditadura militar, jamais foi militante do PCB e nunca lavou dinheiro para tal partido, nem financiou a luta armada, através do apoio à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

      Outra mentira é que o VPR, que tinha como um dos líderes o capitão do Exército Carlos Lamarca, teria tido como base um sítio de Rubens Paiva em Juquitiba, Vale do Ribeira.

      Rubens Paiva era filiado ao PTB, nunca foi filiado ao PCB e, aliás, esses partidos não participaram da luta armada no Brasil. Por isso, a alegação de que Rubens lavaria dinheiro para o PCB financiar a VPR não faz sentido. E mais, o ex-deputado morto pela ditadura militar não tinha um sítio em Juquitiba, era o seu pai, Jaime Paiva, que tinha uma fazenda em Eldorado, SP, e o grupo de Lamarca sequer ficou por lá, e sim em Jacupiranga, SP e, para afastar quaisquer dúvidas, registre-se: o pai de Rubens apoiava o regime militar.

      Essa é a verdade.

      Rubens Paiva era um democrata nacionalista, anti-imperialista, um trabalhista, quando muito um social-democrata.

      Mas o que Rubens Paiva fez afinal? 

      Na madrugada do dia 1º de abril de 1964, com o golpe militar em andamento, Rubens Paiva, deputado federal por São Paulo, fez um apelo ao vivo pela Rádio Nacional, em defesa da legalidade do presidente João Goulart. 

      O discurso se tornou histórico pela coragem do deputado em criticar abertamente o golpe em andamento, por pedir o cumprimento da lei o jovem deputado Rubens Paiva foi cassado e ou alguns meses no exílio. 

      O que disse Rubens Paiva que lhe custou o mandato em 1964 a vida em 1971?

      Ele disse: “O nosso presidente [João Goulart], ao tomar as medidas tão reclamadas [reformas de base] por todo o nosso povo, medidas que nos conduzirão indiscutivelmente a nossa emancipação política e econômica definitiva, realmente prejudicou os interesses de uma pequena minoria de nossa terra, pequena minoria, entretanto, que detém um grande poder, todo o poder econômico deste país, todos os órgãos de divulgação, os grandes jornais e as estações de televisão. É indispensável, portanto, que todo o povo brasileiro, os trabalhadores e os estudantes de São Paulo, em especial, estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade”. Ou seja, ele pediu pela legalidade, esse foi seu crime.

      Mas voltemos ao filme.

      O filme de Walter Salles deu ao livro de Marcelo Rubens Paiva uma dimensão internacional e às novas gerações no Brasil a possibilidade de conhecer o que foi aquele período.

      Uma curiosidade: Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou aqui”, paulistano de nascimento, estudou engenharia agrícola na UNICAMP e morou aqui na Vila Nova, numa república de estudantes na rua Carolina Florense, isso ocorreu no final dos anos 1970; contudo, um acidente fez com que o Brasil perdesse um futuro engenheiro agrícola, mas o mundo ganhou um escritor de sucesso, alguém que se tornou uma das mais importantes figuras da minha geração.

      Marcelo, formado em rádio e TV na USP e em Teoria Literária pela UNICAMP, em 1983 venceu o prêmio Jabuti com o conhecido “Feliz ano velho”, que foi adaptado para o cinema e o filme, dirigido por Roberto Gervitz, foi um sucesso, sendo premiado nos festivais de Gramado, Rio e Natal.

      E agora, seis anos depois da morte de Eunice Paiva, o filme de Walter Salles, com grande atuação de Fernanda Torres, contou a história de uma de nossas heroínas ao mundo, história de quão violenta foi a ditadura militar no Brasil.

      Podemos imaginar o quão violentos seriam nossos dias se a intentona bolsonarista tivesse logrado êxito e a “rataria”, nas palavras do General Mário Fernandes, estivesse no poder e de forma plenipotenciária.

      Ganhamos o Oscar, e agora? 

      Agora devemos apoiar ainda mais e de todas as maneiras, todas as formas de expressão artística: música; dança; pintura; escultura; teatro; literatura; cinema e fotografia, despidos de preconceito e abertos à arte emergente da nossa realidade periférica. 

      Sigo comemorando muito as vitórias do filme em Veneza, Cannes, no Globo de Ouro e agora no Oscar, dentre outros tantos, e compartilho essas reflexões.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...