Ganância por lucros afoga oceanos enquanto governos hesitam em concluir tratado
Lamentavelmente, a questão é continuamente adiada, entravada por conflitos de interesses entre nações, empresas e indivíduos
Há 33 anos, na Eco 92, no Rio de Janeiro, engajei-me na luta pela proteção ambiental, incluindo os oceanos contra o lixo plástico, já então um tema urgente. Lamentavelmente, a questão é continuamente adiada, entravada por conflitos de interesses entre nações, empresas e indivíduos. Essa omissão criminosa cobra um preço alto no presente, agravando a crise ambiental de forma irreversível.
Na Semana Mundial do Meio Ambiente, iniciada em 2 de junho de 2025, a poluição plástica lidera debates globais, com ações educativas e limpezas costeiras em dezenas de países. Porém, a lentidão nas negociações do Tratado Global, iniciado na ONU em 2022, preocupa ambientalistas. O mundo produz 430 milhões de toneladas de plástico anualmente, com apenas 9% reciclados, e 11 milhões de toneladas devastam os oceanos.
Sem um acordo robusto, o plástico nos mares pode triplicar até 2040, superando o volume de peixes, projeta o PNUMA. A crise ameaça a saúde humana e o futuro das gerações. O tratado visa eliminar a poluição plástica desde a produção até o descarte, mas divergências entre países travam avanços.
Interesses econômicos contra a sustentabilidade
Países da União Europeia exigem metas obrigatórias para reduzir plásticos descartáveis, como canudos e copos, e banir aditivos tóxicos, como o bisfenol A, associado a doenças, segundo a OMS. Já Arábia Saudita, Rússia e Irã resistem, citando prejuízos às economias baseadas em combustíveis fósseis, dos quais o plástico é derivado.
Essa tensão prioriza lucros imediatos sobre a sustentabilidade. Um estudo da Nature de 2021 mostra microplásticos em 88% das águas oceânicas, contaminando a cadeia alimentar humana. Nos solos, 22% do plástico produzido polui ecossistemas, prejudicando a biodiversidade, enquanto sua produção emite 1,8 bilhão de toneladas de CO2, segundo o Banco Mundial.
A crise afeta 600 espécies marinhas, com tartarugas e aves morrendo por ingestão de resíduos, alerta a WWF. A poluição plástica agrava as mudanças climáticas e exige soluções urgentes.
Imagine o planeta como uma espécie de jardim, onde cada semente plantada pelas gerações adas deveria florescer para as futuras. Hoje, esse jardim está sendo invadido por uma trepadeira indestrutível de plástico, cujas raízes sufocam a terra e cujas folhas bloqueiam a luz do sol. Essa trepadeira não cresce sozinha; é regada pela inação global e fertilizada por interesses econômicos. O Tratado Global é a ferramenta para podá-la, mas as nações hesitam, temendo cortar demais.
Líderes globais pressionam por mudanças
A França, que baniu plásticos descartáveis em 2020, defende metas globais para evitar que países com regras fracas perpetuem a poluição. “Um tratado vinculante é essencial para justiça ambiental”, disse a ministra Sarah El Haïry em 2023. A Alemanha, reciclando 56% de seus plásticos, segundo a Eurostat, pede financiamento para tecnologias sustentáveis.
Nos EUA, Dianna Cohen, da Plastic Pollution Coalition, alerta sobre a saúde. “Microplásticos no corpo humano causam infertilidade e doenças”, afirmou em 2023. Richard Thompson, biólogo marinho, reforça: “Os oceanos viram lixões, com danos irreversíveis à fauna”, segundo a Science de 2020. Ambos cobram redução drástica na produção de plásticos.
O Brasil, mediador nas negociações, evita metas globais obrigatórias, protegendo sua indústria petroquímica, a maior da América Latina. Ainda assim, propõe incluir catadores no tratado, reconhecendo que processam 55% do material reciclado no país, segundo o IPEA. Um fundo internacional apoiaria esses trabalhadores. Muito oportuna e justa essa posição, porque que significa dar voz a uma Legião de trabalhadores que precisa ser ajudada, auxiliada a ter sua função humana e social reconhecida pelas sociedades mundo afora.
Um pacto para gerações futuras
O rascunho do tratado, divulgado pelo PNUMA em 2023, destaca seu impacto. O Artigo 3.1 determina que “os Estados-Partes reduzirão a produção de plásticos primários em 50% até 2035, priorizando alternativas sustentáveis”. O Artigo 6.2 cria “um mecanismo financeiro global para gestão de resíduos em países em desenvolvimento, fortalecendo cooperativas de reciclagem”.
Esses trechos mostram o potencial do tratado para transformar a economia do plástico. A próxima rodada de negociações, em agosto na Suíça, é decisiva. Sem ação, o prazo de 2040 para eliminar a poluição plástica será perdido, deixando oceanos sufocados e solos contaminados para as futuras gerações.
Microplásticos, encontrados em sangue humano, segundo a The Lancet de 2022, intensificam a crise de saúde pública. Evitar plásticos descartáveis, apoiar embalagens retornáveis e reciclar são os cruciais. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, inspiradas pela Europa, baniram plásticos de uso único, mostrando caminhos possíveis.
Empresas devem inovar, já que apenas 3% das embalagens plásticas são reutilizáveis, segundo a Ellen MacArthur Foundation. O Tratado Global é um compromisso com a vida, protegendo oceanos, biodiversidade e a saúde futura. Como disse António Guterres, da ONU, em 2023: “Sem ação, o plástico será nossa herança”.
Que 2025 marque a virada para um planeta sustentável.
Se o tratado não for assinado, não tardará o tempo em que os mares e oceanos, outrora berços de vida, serão tomados por mais plástico do que peixes, condenando o planeta a um futuro sufocado por resíduos indestrutíveis.
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