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      Sara York

      Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior é bacharel em Jornalismo, licenciada em Letras Inglês, Pedagogia e Letras vernáculas. Especialista em educação, gênero e sexualidade, primeiro trabalho acadêmico sobre as cotas trans realizado no mestrado e doutoranda em Educação (UERJ) com bolsa CAPES, além de pai, avó. Reconhecida como a primeira trans a ancorar no jornalismo brasileiro pela TVBrasil247.

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      FUTURAMA (V): como os jovens brasileiros enxergam o futuro

      Uma série de 5 textos para estudantes brasileiros escritos por Sara Wagner York, doutoranda em Educação, especialista em violência e esperança

      Estudantes universiários em sala de aula (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

      FUTURAMA une duas palavras, o futuro e a representação de algo. Ele deriva da palavra grega "horama", que significa "visão" ou "vista". Em termos mais simples, o sufixo "-rama" é usado para criar palavras que sugerem uma visão ampla, uma exibição espetacular ou uma representação visual de algo, nesse caso, do futuro! O que você vê como futuro? (Quinta parte)

      5. Entre o abismo e a ponte - Talvez o maior achado dessas nossas conversas-pesquisa - e o elo com as juventudes do Marajó (Instituto Mondó) - seja a urgência de criar espaços de escuta afetiva e política. Ouvir não apenas o que os jovens pensam, mas como eles sentem. Não apenas o que desejam, mas o que os paralisa. Não apenas onde estão, mas para onde (ainda) querem ir.

      Vivemos tempos difíceis. Mas, como nos ensinou Paulo Freire, a esperança é um ato político. O "Relatório de Futuros 2025" nos obriga a olhar para o abismo, mas também a construir pontes. Essas pontes se chamam política pública, educação crítica, cuidado coletivo e, sobretudo, escuta. Que possamos escutar mais - e agir com os jovens, não por eles. Afinal, o futuro não é uma sentença: é uma construção. E construir junto é o maior gesto de esperança que podemos oferecer.

      O desafio está justamente aí: como construir essas pontes num país onde o medo do futuro atinge 62% da juventude e a ansiedade se tornou o sentimento mais associado ao porvir? O relatório, realizado com o movimento Teach the Future Brasil, nos revela que, apesar do medo e da angústia, 87% dos jovens acreditam que imaginar o futuro pode ser aprendido. Este dado carrega uma chave potente: se o futuro é imaginável, ele também é moldável. Mas esse exercício de imaginação só é possível quando há espaço, voz e reconhecimento - sobretudo para aqueles que vivem nas bordas do sistema, como jovens negros, indígenas, LGBTQIA+, mulheres e pessoas com deficiência.

      É aí que a metáfora da ponte, mobilizada por Gloria Anzaldúa, se torna fundamental. A escritora chicana nos ensina que a ponte é um símbolo de interseção entre culturas, corpos e vivências que a sociedade insiste em apartar. Anzaldúa via a ponte como espaço de conflito, mas também de fecundação de alianças: um lugar onde as identidades se entrelaçam, onde se formam comunidades que resistem e insistem na vida. Sua proposta de "hermanidades" - alianças entre mulheres de diferentes origens e experiências - é profundamente atual quando pensamos nas juventudes brasileiras que, mesmo diante da violência, da exclusão e do silenciamento, seguem produzindo arte, redes de cuidado, estratégias de sobrevivência e projetos de mundo.

      No Brasil, os dados sobre violência não deixam dúvidas sobre as razões do medo: entre 2014 e 2023, os registros de agressões contra pessoas LGBTQIA+ aumentaram 1.227%. Os homicídios de jovens negros subiram 11% entre 2019 e 2021. Feminicídios ainda matam, em média, 4,8 mulheres por dia. E apenas 31% dos jovens acreditam que a escola os prepara adequadamente para enfrentar o amanhã. Ou seja, não basta oferecer conteúdos; é preciso oferecer sentido, espaço de expressão, e sobretudo segurança emocional e física para que o ato de imaginar o futuro se torne possível.

      Essa travessia exige políticas públicas integradas, mas também uma revolução afetiva dentro da educação. Professores e professoras precisam ser agentes construtores dessas pontes, atuando como mediadores entre o agora e o amanhã, entre a dor e a criação. A sala de aula, nesse sentido, pode ser o espaço onde se acolhe o medo sem perpetuá-lo, onde se reconhece o trauma sem deixá-lo paralisar, onde se articula a utopia não como fuga, mas como ferramenta de enfrentamento.

      A ponte de Anzaldúa não é confortável - ela balança com o peso das histórias que carrega. Mas ela é necessária. Porque o futuro, para os jovens brasileiros, não será um terreno dado: será uma trilha aberta com sangue, suor, desejo e solidariedade. E se quisermos caminhar juntos, teremos que aprender, de verdade, a escutar. Escutar suas dores, seus sonhos, suas estratégias e sua raiva justa. Escutar não como forma de tutela, mas como gesto radical de reconhecimento.

      A esperança, nesse contexto, não é um luxo. É resistência. É aquilo que nos permite continuar erguendo pontes onde só havia muros. É o que transforma medo em movimento. E, sobretudo, é o que mantém viva a certeza de que construir junto, como nos ensinam Freire e Anzaldúa, é o único caminho para um futuro digno de ser vivido.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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