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      Luis Mauro Filho

      Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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      Escassez de terras raras vira arma econômica da China contra tarifaço dos EUA

      Exportações de ímãs estratégicos despencam, montadoras suspendem produção e Trump tenta reabrir diálogo em meio a crise com Elon Musk

      Uma tela mostra o CEO da Tesla, Elon Musk, e o presidente dos EUA, Donald Trump, enquanto um operador de opções futuras trabalha no pregão da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), na cidade de Nova York, EUA, em 30 de maio de 2025 (Foto: REUTERS/Jeenah Moon)

      A indústria automotiva global está enfrentando uma crise sem precedentes provocada pela escassez de minerais de terras raras, essenciais na produção de veículos elétricos e outros dispositivos de alta tecnologia. 

      A interrupção no fornecimento, motivada por medidas restritivas da China — principal exportadora mundial desses materiais — já forçou diversas montadoras a suspender linhas de produção, afetando diretamente as cadeias globais de suprimento.

      Entre as empresas impactadas, destacam-se a Ford e a Suzuki. A Ford precisou interromper a montagem do SUV Explorer em sua planta de Chicago por uma semana. Já a Suzuki suspendeu a produção do modelo Swift na Índia por mais de duas semanas, com previsão de retomada apenas a partir de meados de junho.

      O impacto também se estende a fornecedores e montadoras na Europa, como a Bosch e a ZF, que relatam gargalos na cadeia de suprimentos. Até mesmo a Bajaj Auto, da Índia, emitiu alerta sobre atrasos críticos na obtenção de ímãs de terras raras, prevendo riscos operacionais caso a situação persista até julho.

      A razão central está no domínio quase absoluto da China sobre a produção e o processamento de terras raras — cerca de 90% da capacidade mundial está concentrada no país asiático. 

      Em abril, o governo chinês ou a restringir severamente a exportação de ímãs feitos com esses minerais, exigindo licenças detalhadas e demoradas. Isso reduziu pela metade as exportações no mês, criando um gargalo de fornecimento que atinge todos os setores industriais dependentes desses materiais.

      Essa medida foi uma resposta direta ao tarifaço promovido pelos Estados Unidos, que elevou tarifas de até 145% sobre produtos chineses, numa tentativa de enfraquecer a dependência americana do país. 

      No entanto, a resposta chinesa — mais estratégica e seletiva — expôs ainda mais a vulnerabilidade das cadeias de suprimento ocidentais. Setores inteiros, como automotivo, defesa e tecnologia, se tornaram reféns de uma commodity controlada quase exclusivamente por Pequim.

      Organizações como a Alliance for Automotive Innovation e a MEMA (associação de fornecedores dos EUA) enviaram comunicados ao governo americano alertando para os riscos sistêmicos. A carta de 9 de maio foi categórica: “Em casos graves, isso pode incluir a necessidade de redução dos volumes de produção ou até mesmo a paralisação das linhas de montagem de veículos”. Essas entidades cobram do governo ações concretas para diversificar as fontes de fornecimento ou negociar a retomada do o aos insumos.

      Do ponto de vista diplomático, a situação agravou-se nas últimas semanas. Mesmo após a de um acordo parcial em maio, que prometia distensionar as relações comerciais, Trump acusou a China de violar os termos, alegando que Pequim não estaria cumprindo sua parte quanto à liberação de exportações. O governo chinês rebateu as acusações e reafirmou que as restrições são medidas soberanas de proteção a recursos estratégicos.

      Em meio à escalada de tensão, houve uma tentativa de reaproximação. Na quinta-feira (5), Trump e o presidente Xi Jinping conversaram por telefone. Segundo a Casa Branca, o tom foi positivo. 

      Como resultado, foi confirmada uma reunião entre representantes econômicos dos dois países para segunda-feira, 9 de junho, em Londres. Participarão do encontro membros do Tesouro, do Comércio e do Escritório de Comércio Exterior dos EUA, além de uma comitiva chinesa de alto nível. O objetivo declarado é buscar saídas para o ime, com foco especial na questão das terras raras.

      Entretanto, o ambiente político nos EUA tornou-se mais turbulento com a ruptura pública entre Trump e Elon Musk, ocorrida também na quinta-feira (5). Musk, que vinha criticando um novo projeto de lei fiscal do governo, foi alvo de retaliações verbais por parte do presidente. 

      Trump ameaçou cortar subsídios e contratos governamentais com as empresas de Musk, como a Tesla e a SpaceX. A reação do mercado foi imediata: as ações da Tesla caíram 14%, resultando em uma perda de valor de mercado estimada em US$ 150 bilhões — a maior já registrada em um único pregão da empresa.

      A briga escalou nas redes sociais, com Musk chegando a sugerir o impeachment de Trump e acusando o presidente de ingratidão. O episódio revelou uma cisão importante na relação entre o governo e o setor de tecnologia. 

      Musk era visto como um elo entre a Casa Branca e as big techs, além de manter laços comerciais com a China. Sua ruptura com Trump pode prejudicar ainda mais a percepção de unidade da delegação americana às vésperas da reunião com os chineses.

      A fragilidade interna nos EUA, combinada com a dependência estrutural das terras raras chinesas, mina a capacidade de negociação do governo americano. Enquanto a istração Trump tenta impor tarifas e endurecer o discurso, a China se utiliza de seu poder estratégico sobre insumos essenciais para pressionar por vantagens. 

      Em última instância, a indústria global — e não apenas americana — é quem sofre os efeitos diretos, com suspensão de produção, aumento de custos e riscos para empregos em diversos países.

      O desfecho da reunião em Londres será decisivo para os rumos da disputa. Os EUA buscam uma flexibilização das licenças de exportação chinesas, enquanto Pequim exige um recuo nas tarifas consideradas punitivas. Com as montadoras pressionando por soluções rápidas e as tensões políticas domésticas em alta, Trump enfrenta um teste duplo: manter firme sua retórica contra a China e, ao mesmo tempo, garantir a estabilidade de setores-chave da economia.

      Em resumo, a crise atual revela o grau de interdependência entre as maiores economias do mundo, especialmente no campo das tecnologias estratégicas. Ao transformar uma disputa comercial em um embate geopolítico, EUA e China arrastam consigo empresas, empregos e consumidores de todas as partes do planeta. A escassez de terras raras é apenas um dos sintomas mais visíveis dessa nova era de competição global.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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