De desdém a respeito: Brasil emerge como potencial mediador estratégico na guerra na Ucrânia
Postura diplomática equilibrada reforça papel do país nas negociações por paz
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, elogiou nesta segunda-feira (28) a política externa do Brasil, classificando-a como “livre e independente” e sugerindo a participação brasileira como mediadora na guerra da Ucrânia.
O reconhecimento russo não é novo. Durante visita a Brasília em abril de 2023, Lavrov já havia destacado a “clara compreensão” do Brasil sobre o conflito e o “desejo de contribuir” para sua resolução. Naquele momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciava seu terceiro mandato, colocando a defesa da paz como eixo central da política externa.
Lula condenou a invasão da Ucrânia, votou contra a Rússia na ONU e recusou o envio de armas a Kiev. Ainda nos primeiros meses de governo, propôs a formação de um “grupo de países amigos” para buscar uma solução diplomática, em parceria com nações como China e Índia.
A iniciativa, no entanto, enfrentou ceticismo inicial. Parte da imprensa ocidental e brasileira acusou Lula de subestimar o peso internacional do Brasil e criticou declarações que responsabilizavam Estados Unidos e União Europeia pela continuidade da guerra, ao incentivarem o envio de armamentos.
O governo brasileiro reiterou sua posição de condenar a violação da soberania ucraniana, mas manteve a linha de diálogo com todos os envolvidos, evitando adesão a sanções ou envolvimento militar. Com o prolongamento do conflito e a ausência de uma solução militar, essa postura ou a ser mais valorizada.
Em 2025, a mudança de conjuntura ficou evidente. O chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Andriy Yermak, procurou oficialmente o Brasil para solicitar apoio em negociações. Yermak destacou o Brasil como uma das maiores democracias do mundo e defensor do direito internacional, apontando sua importância para pressionar Moscou.
A aproximação da Ucrânia reconheceu o diferencial da diplomacia brasileira: capacidade de manter canais abertos tanto com o Ocidente quanto com a Rússia. Membro fundador dos BRICS, o Brasil também preserva relações sólidas com Estados Unidos e Europa, participando de fóruns como o G7 e mantendo diálogo permanente com todas as partes. Mesmo a violenta e traumática chancelaria do governo de Jair Bolsonaro não implodiu este histórico de boas relações multilaterais.
Essa postura equidistante fortaleceu a imagem do Brasil como interlocutor respeitado, comprometido com princípios internacionais e distante de alinhamentos automáticos. O reconhecimento simultâneo de Rússia e Ucrânia reforça o potencial brasileiro para atuar como mediador.
Se conseguir avançar na facilitação do diálogo, o Brasil poderá consolidar sua posição como ator global em crises internacionais. Em um cenário geopolítico cada vez mais polarizado, a capacidade de transitar entre diferentes blocos e manter o diálogo torna-se um ativo estratégico.
O cenário atual aponta para uma reavaliação da proposta brasileira. De criticado inicialmente, o país a a ser visto como peça relevante na busca por uma solução negociada para a guerra da Ucrânia, consolidando sua tradição de diplomacia ativa e independente.
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