Consórcio entre as big techs e a extrema-direita é o desafio da democracia
Manipulação dos algoritmos e uso impune de fake news e discurso de ódio deram à extrema-direita um handicap de proporções avassaladoras
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou na última quarta-feira, 21, que existe uma grande possibilidade de o ministro do STF, Alexandre de Moraes sofrer sanções do governo dos Estados Unidos. Para isso, Donald Trump pretende utilizar uma lei aprovada em 2012, que autoriza sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. A lei prevê medidas como bloqueio de bens e contas em território estadunidense, bem como a proibição da entrada do sancionado no país. Está claro que nenhum desses crimes apontados na lei se enquadra nas atuações do magistrado brasileiro. Os argumentos apresentados pelo deputado republicano Cory Mills, íntimo de Eduardo Bolsonaro, para o uso dessa lei chega a ser bisonho: “temos observado uma censura generalizada e perseguição política contra toda a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns. O que está acontecendo agora (no Brasil) é uma iminente prisão politicamente motivada contra o ex-presidente Bolsonaro. Essa repressão se estende além das fronteiras do Brasil, impactando indivíduos em solo americano”.
Está claro que as ameaças de sanções ao ministro Alexandre de Moraes têm como finalidade pressionar o julgamento em curso no STF, dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, planejado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Não acredito, nesse caso, que Trump irá levar adiante essa agressão à nossa soberania. Mas só o fato de fazer as ameaças é, por si só, um sinal de que a internacional fascista instalada em Washington opera ativamente para retomar o poder no Brasil nas eleições do ano que vem.
As big techs vêm atuando em total harmonia com o governo Donald Trump. Lá, como cá, as empresas estão integradas e profundamente envolvidas num processo de aproximação política com a extrema-direita. Na semana ada, o Partido Liberal organizou seu 2º Seminário Nacional de Comunicação em Fortaleza, com a participação de Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro. O evento teve o apoio técnico das "big techs" Google e Meta.
A falta da regulamentação das redes sociais abriu uma avenida para o fortalecimento da extrema-direita mundo afora. A manipulação dos algoritmos e o uso indiscriminado e sem punição de fake news, do discurso de ódio e da criação de narrativas inverídicas deu à extrema-direita mundial um handicap de proporções avassaladoras. No caso brasileiro, enfraqueceu a propaganda eleitoral gratuita nos veículos analógicos, que de maneira democrática distribui o tempo entre os partidos nas emissoras de rádio e televisão.
No ano ado, pela primeira vez, quando o assunto é comportamento do consumidor, o YouTube ultraou as cinco maiores emissoras de TV aberta do país.
O dado faz parte do Target Group Index, produto da Kantar IBOPE Media, e foi feita de forma própria para análise de mercado.
Esse avanço da plataforma estadunidense está ligado principalmente à reprodução de músicas e grandes eventos esportivos, que utilizam o YouTube como plataforma exclusiva de transmissão.
Nas redes sociais como Facebook, Instagram, TikTok e X, os conteúdos políticos e ideológicos postados são utilizados à exaustão através de compartilhamento nos aplicativos de mensagens. É exatamente aí que as democracias começam a morrer e os estados autocráticos vão sedimentando o controle de mentes e corações.
Como reverter isso a tempo de impedir a continuação do avanço fascista, não é fácil. Talvez um caminho seria atrair plataformas de outros países, ampliando concorrência com as big tech dos EUA que operam no Brasil.
O crescimento da extrema-direita nos últimos meses em países como Portugal, Romênia, Polônia e Argentina é desalentador. Se em 2022, apesar de dominar as redes sociais, a extrema-direita não conseguiu a reeleição de Bolsonaro, teve sucesso na eleição de uma bancada de peso no Congresso e nos principais Estados do País.
Com Trump de volta ao poder nos Estados Unidos, a eleição do ano que vem se reveste de uma importância crucial para a preservação do Estado Democrático de Direito. Democratas de todo o país, uni-vos!
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