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      Aquiles Lins

      Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

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      Collor e as pedras que cantam: prisão domiciliar com vista para o mar

      Na cobertura de R$ 9 mi com vista para o mar, Collor cumpre pena com conforto e escancara o abismo social da Justiça brasileira, escreve Aquiles Lins

      Fernando Collor de Mello (Foto: Agência Brasil | Reprodução/Google)

      Imagine a cena: em uma cobertura de 600 metros quadrados, no alto de um prédio à beira-mar em Maceió, Fernando Collor de Mello observa o verde esmeralda das águas de Ponta Verde. Cumprindo prisão domiciliar, o ex-presidente ouve tocar na 94.1 FM, a Rádio Gazeta, de sua propriedade, a seguinte 'pedrada': “Quem é rico mora na praia / Mas quem trabalha nem tem onde morar. Quem não chora dorme com fome / Mas quem tem nome joga prata no ar”. É Pedras que Cantam, do poeta Fausto Nilo, imortalizada por vozes como as de Fagner e Dominguinhos. A imagem é poética, mas não há poesia que disfarce o contraste entre o crime e a consequência — ou a falta dela.

      Collor foi condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção iva e lavagem de dinheiro. Mas, aos 75 anos e com um quadro de saúde frágil — Parkinson, apneia do sono e transtorno bipolar, segundo os autos —, o ex-senador e ex-presidente obteve o benefício da prisão domiciliar, chancelado pelo STF e pela Procuradoria-Geral da República.

      Nada mais justo que o Estado garanta tratamento digno a todos, inclusive aos condenados. Mas quando esse “digno” se traduz em uma cobertura avaliada em R$ 9 milhões, com vista panorâmica para o mar, a Justiça parece menos cega e mais cúmplice de uma lógica perversa: a de que, no Brasil, o cárcere tem endereço e classe social. Para o pobre, a cela superlotada. Para o rico, o silêncio climatizado de um apartamento de luxo, com tornozeleira eletrônica como adereço.

      A ironia da situação se aprofunda quando se lembra que o Collor dos anos 1990 se vendia como o “caçador de marajás”. Três décadas depois, tornou-se ele próprio o símbolo da elite política acusada de desviar milhões em esquemas de corrupção. O caso da BR Distribuidora, em que Collor foi condenado por receber R$ 20 milhões em propina, é só mais um capítulo da novela nacional em que os protagonistas da alta cúpula política raramente enfrentam finais trágicos — ao menos no sentido penal.

      Afinal, o crime compensa? Para quem pode pagar bons advogados, contar com o tempo da prescrição e habitar mansões enquanto cumpre pena, parece que sim. Collor, da varanda, segue ouvindo a canção. “Pra ser feliz num lugar / Pra sorrir e cantar / Tanta coisa a gente inventa / Mas no dia que a poesia se arrebenta / É que as pedras vão cantar”. Mas há muitas pedras neste país que já pararam de cantar. Estão cansadas de ver que a justiça ainda tem vista para o mar.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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