Aiatolá Khamenei exalta ‘independência do Irã’ nos 36 anos da morte do fundador da República Islâmica
Líder Supremo do Irã ataca potências imperialistas durante cerimônia no sul de Teerã, no aniversário da morte do Aiatolá Khomeini
Por Leonardo Sobreira*, de Teerã
O dia começou com uma temperatura amena em Teerã, em um raro alívio para a capital iraniana durante minha curta estadia aqui. A suavidade do clima e o sopro dos ventos pareciam anunciar que o dia de hoje seria diferente, especial. E foi.
Dezenas de milhares de fiéis, vestidos em trajes pretos e muitos portando bandeiras do Irã e da Palestina caminharam em direção ao complexo de Haram Motahhar, o imponente mausoléu de cúpula dourada onde repousa o corpo do Aiatolá Ruhollah Khomeini. Falecido há 36 anos, ele permanece como a figura central da República Islâmica.
Muitos vieram de longe, alguns em marchas de até 30 dias a pé. Ao longo das estradas, ônibus adaptados como ambulâncias, patrulhas policiais e agentes da Guarda Revolucionária Islâmica reforçavam a segurança diante do fluxo intenso.
O movimento aumentava nas rodovias à medida que famílias inteiras, militantes e religiosos lotavam os arredores da mesquita principal. O trânsito parou. Um mar de gente se formava na entrada, com apitos cortando o ar entre os carros e as vozes que ecoavam orações e cânticos.
No interior do santuário, os sapatos e pertences eram deixados do lado de fora, conforme o ritual. Ali dentro, o dourado da cúpula refletia as luzes, e o ambiente parecia suspenso entre o sagrado e o político. Todos aguardavam o momento central da cerimônia: o discurso do Líder Supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei.
Em uma varanda elevada voltada diretamente para o túmulo de Khomeini, sua voz rouca, já marcada pelo tempo, irrompeu no salão com firmeza.
Em sua fala, Khamenei exaltou a Revolução Islâmica como o verdadeiro movimento de ‘independência do Irã', e afirmou que foi Khomeini quem estabeleceu as diretrizes para o fortalecimento militar do país.
‘Antes, não produzíamos nada e dependíamos da ajuda externa’, recordou Khameini, suas palavras seguidas por gritos de ‘abaixo os Estados Unidos e Israel’, constantemente, enquanto os fiéis muçulmanos erguiam os punhos.
O próprio Líder Supremo também voltou a atacar os Estados Unidos e Israel, em defesa do direito iraniano ao enriquecimento de urânio. Em referência às exigências norte-americanas nas negociações sobre o acordo nuclear, Khamenei foi enfático.
‘Quem são vocês?’, questionou, ao criticar a tentativa de Washington de ditar os rumos do programa nuclear iraniano.
Khamenei também reiterou o apoio do Irã à causa palestina, reiterando que a resistência ao sionismo e à interferência estrangeira continua a ser uma das colunas da República Islâmica.
A multidão, emocionada, acompanhou cada palavra com atenção vidrada, continuando a interromper o discurso com aclamações.
A atmosfera da cerimônia foi marcada por uma impressionante combinação de devoção e poder simbólico. O brilho dourado da mesquita, os trajes escuros dos guardas, o verde e vermelho das bandeiras em procissão, tudo reforçava a ideia de continuidade — de que, adas quase quatro décadas, o projeto político e religioso iniciado por Khomeini ainda pulsa com força no coração do Irã e do universo islâmico.
*Leonardo Sobreira é editor-executivo do Brasil 247 e está em Teerã a convite oficial entre 01/06/2025 a 08/06/2025
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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