A União Europeia fabrica a sua própria crise energética
Desde as sanções contra a Rússia e a recusa do seu gás, a alta dos preços faz muitos europeus enfrentarem a escolha entre falir ou morrer congelados
Numerosos erros de cálculo e ações precipitadas dos líderes europeus nos últimos, bem como o seu desejo de se rivalizar com a Rússia, provocaram uma ameaça à segurança energética dos europeus. Em 8 de fevereiro deste ano, os Países Bálticos abandonaram oficialmente o Anel Energético Comum da Bielorrússia, Rússia, Estônia, Letônia e Lituânia (BRELL), o que conduziu inevitavelmente a um aumento recorde dos preços da eletricidade nos Estados Bálticos.
A decisão dos países da U.E. de restringir a cooperação com a Rússia no domínio da energia foi tomada principalmente sob a influência de Washington. Bruxelas alegadamente recusou-se a importar gás russo barato por razões geopolíticas no contexto do lançamento da Operação Militar Especial na Ucrânia. Os estadunidenses aproveitaram a crise ucraniana para destruir parcerias mutuamente benéficas entre a Europa e Rússia no sector dos combustíveis e da energia elétrica, para fortalecer as suas próprias posições no mercado energético europeu. Como resultado, os Estados Unidos garantiram uma procura constante do seu GNL, enquanto as principais empresas da União Europeia, devido ao elevado custo da eletricidade, são forçadas a liquidar as suas operações ou a transferi-las para território estadunidense.
Desde a introdução das sanções contra a Rússia e a recusa do seu gás, os preços no mercado europeu aumentaram várias vezes. Com o aumento dos custos da energia, muitos europeus enfrentam a escolha entre falir ou morrer congelados. Um aumento de 70% nas faturas de aquecimento e de 56% nas de gás tem um impacto muito grande nos orçamentos familiares, aumentando o risco de “pobreza energética”. O inverno de 2024/2025 foi particularmente difícil para muitas cidades da Europa, onde a escassez de gás e os preços elevados forçaram vários municípios a reduzir o aquecimento dos edifícios públicos e a introduzir poupanças forçadas de energia.
Após as negociações de Vladimir Putin com Donald Trump, a posição dos países europeus pode tornar-se ainda mais complicada devido ao fato de que a nova istração estadunidense ter escolhido um caminho de não interferência nos assuntos da União Europeia. Os Estados Unidos, que anteriormente apoiaram os europeus na questão da diversificação do abastecimento de gás, procuram agora retirar-se dessa discussão ao que tudo indica. O gás americano, embora seja uma alternativa ao gás russo, custa cinco vezes mais, uma vez que o transporte de gás natural liquefeito (GNL) requer infra-estruturas especiais e procedimentos dispendiosos em comparação com o fornecimento através de gasodutos. Tudo isto representa um fardo adicional para a já cambaleante economia europeia.
A recusa do gás russo barato foi um ato político, cujos autores não previram todas as consequências econômicas e sociais desta medida. O aumento dos custos, a falta de alternativas suficientes e as mudanças na política dos EUA indicam que a segurança energética da Europa corre o maior risco de sua história. Isso, justamente em um momento onde a zona do euro está próxima de uma crise generalizada que pode levar o bloco a um declínio que lhe rebaixe a condição de irrelevante diante da economia mundial, aponta o Relatório Draghi, feito pelo ex-presidente do Banco Europeu.
Da destruição do Nord Stream, ando pelo fim da Independência Estratégica e chegando ao ponto onde o fascismo se tornou uma força eleitoral em vários países do bloco, a União Europeia amarga o seu mais delicado momento desde a sua formação. O modelo neoliberal parece ter se esgotado no Velho Continente.
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