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      Ricardo Queiroz Pinheiro

      Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

      19 artigos

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      A travessia de Tarcísio

      O essencial naquela audiência não estava no que se disse, e sim no que foi deixado em suspenso

      Tarcísio de Freitas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

      Dez minutos bastaram. Tarcísio de Freitas entrou, respondeu com parcimônia, e saiu. Cumpriu seu papel com a precisão de quem está no jogo. Falou o que era preciso — e apenas isso. Mas o essencial naquela audiência não estava no que se disse, e sim no que foi deixado em suspenso.

      Alexandre de Moraes, que tem sido implacável com silêncios estratégicos, incisivo diante de contradições e imprecisões calculadas, desta vez recolheu-se. Gonet, igualmente. Não houve interpelações, nem tensões. Nenhum sobressalto retórico. O governador de São Paulo, testemunha de defesa de Jair Bolsonaro, atravessou o STF com tranquilidade e à vontade: sem arranhões, sem constrangimento 

      Isso não é vacilo, é a política em pleno funcionamento.

      O cenário é o da sucessão de 2026, que já se desenha nas entrelinhas. Com Bolsonaro inelegível, o campo conservador precisa de um novo rosto — um que não carregue mau cheiro no bolso do paletó, mas que também não rompa com sua base popular. Tarcísio, tecnocrata de linguagem comedida e fidelidade intacta, surge como esse nome. Seu depoimento não visava apenas proteger o ex-presidente; visava assegurar que ele mesmo continue transitável entre os poderes.

      O Supremo e a PGR agem com o cálculo e frieza Se há excessos a serem punidos, também há o pacto do capital preservar. Lula é tolerável, mas é preciso alguém mais funcional. Ao deixar Tarcísio ar sem arranhões, Moraes e Gonet não endossam o ado — apenas demonstram que, no presente, há outras prioridades. Em meio a um país esgarçado, a Corte opta por ter duas opções.

      A contenção do STF — que em outros momentos foi firme, inquisitiva, impiedosa — funcionou ali como uma moldura. Deixou Tarcísio ar sem marcas. Simplesmente porque reconhece nele uma peça útil ao redesenho da sucessão. O cálculo é visível.

      O depoimento foi breve, mas os gestos que o cercaram não foram pequenos. Havia ali uma coreografia de acomodação. Um ensaio de transição. Uma costura entre o que foi, o que se tenta esquecer, e o que pode vir.

      Subestimar esse momento é ignorar como se costura o poder em tempos de rearranjo. Há uma eloquência nos silêncios. Há escolha na omissão. Há pacto no gesto contido.

      O que estou escrevendo não é novidade. O interessante é observar o ballet da direita liberal e da extrema direita.

      Nem tudo o que se move faz barulho ou fala pelos cotovelos.

      A imagem que eu anexo não é do depoimento de hoje, mas não tá longe da realidade.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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