A moral da novela das 8 aplicada ao INSS
Se o governo espera abafar o caso, dar o dito pelo não dito, irá fracassar
A novela “Vale Tudo”, exibida em 1988, foi uma porrada no Brasil. Naquele momento em que a ditadura militar estava sendo enterrada e os escândalos com civis começavam a pulular, as novelas ou, se preferirem, teledramaturgia, mostrava ao povo mal alfabetizado (quando muito), os dilemas e angústias de um novo cotidiano. Vale a pena ser honesto? Essa é a pergunta com a qual, nosso Balzac tropical, Gilberto Braga, nos importunava.
Fiel a versão original, o Remake agora tem uma subtrama envolvendo uma mala (Rimowa) desaparecida, com um milhão de dólares. Essa estória de mala de dinheiro se tornou referência nacional, e remete a outra estória, contada em “Pecado Capital”, de Janete Clair. Ela gira em torno do taxista Carlão, que encontra uma mala de dinheiro (roubado) em seu taxi. Está colocado o dilema: devolver ou não?
A teledramaturgia tupiniquim é muito rica em personalidades clássicas, heróis como a mãe de Vale Tudo, correta, ética e sem dúvidas. Verdadeira Penélope, esposa de Ulisses. Heróis sem dilemas nem ambiguidades. Pecado Capital não tem final feliz. O herói titubeou e morreu fuzilado, na chuva. A música de Paulinho da Viola dá o tom: "dinheiro na mão é vendaval". Essa é a formação do povo brasileiro. A moral não tem curvas. Não existe Realpolitik. Bandido é bandido, polícia é polícia.
Isso mostra porque a crise do INSS é a mais grave deste governo. Porque envolve os “velhinhos”, nossos Pais e Avós especialmente frágeis e vulneráveis. E os autores são exatamente aqueles que deveriam defendê-los, os servidores públicos.
Se o governo espera abafar o caso, dar o dito pelo não dito, irá fracassar. A oposição está na dianteira da comunicação e vai usar seus trunfos para, após o fim do luto pelo Papa, cair de pau na bandalha do INSS. E arrastando o governo junto.
Para não perder a batalha mais importante do governo, este deve ser capaz de sacrifícios, cortar a própria carne. Lupi deve sair, enquanto durarem as investigações. E, se possível, não deveria voltar. Mesmo que o inquérito não o atinja, não há tempo para retornos.
Toda a cúpula do INSS deveria sair. Não se desvia R$ 6 bi sem a ação (ou omissão) de muita gente. Quem viu e nada fez é tão culpado como os que fizeram. E durante o inquérito, todos são suspeitos, por mais injusto que seja. É a moral popular. Por justiça, após o inquérito, deve-se montar um “novo INSS”, bem diferente do atual.
O “novo INSS” deve ser repovoado de gestores, comprovadamente competentes. Aposentados da Receita Federal, do BB, BNB, Basa, Caixa entre muitos outros celeiros de gestores, podem ser convocados para essa missão.
A tecnologia é questão chave, pois hoje as malas de hoje são digitais. A Dataprev deve ser vasculhada com lupa, em busca dos ralos por onde os 6 bilhões de reais foram tragados. Buracos fechados, frestas seladas, culpados afastados (tanto ativos como ivos), que seja restabelecida.
O novo ministro deve ter autoridade para cobrar a melhoria geral dos serviços prestados ao povo. Recuperando a ideia de um amigo, transformar o serviço público no serviço do público.
E tomando as rédeas do INSS, comandar a implantação de coisas úteis aos aposentados. E chega de crédito (caro) consignado, que só serve aos interesses dos rentistas. Não faz sentido dizer que nosso país é dominado pelo rentismo e apoiá-lo nas políticas públicas.
É possível imaginar até uma “mini” política industrial, como realizada na China, focada em produtos voltados para aposentados, como elevadores para escadas, sistemas de comando por voz e produtos integrados à internet.
Seria no mínimo mais adequado aos dirigentes sindicais aposentados que abundam nos corredores dos ministérios trocassem o apoio aos rentistas pelo apoio a indústria emergente.
O governo deve mostrar claramente de que lado está. E que não está tergiversando. Que nosso presidente está sempre ao lado do povo. E parafraseando um antigo presidente “duela a quem duela”
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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