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      Paulo Henrique Arantes

      Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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      A gentrificação da Favela do Moinho: Tarcísio reedita o Buraco Quente

      Alguém duvida de que a “limpeza” do Moinho servirá à especulação imobiliária e resultará em um oásis para endinheirados?

      Moradores da favela do Moinho protestam contra ação da PM nesta sexta-feira (18) (Foto: Igor Carvalho/Brasil de Fato)

      A Favela do Moinho, na divisa entre os bairros de Campos Elísios e Bom Retiro, na região central de São Paulo, é palco de um show de horrores promovido pelo Governo do Estado. O terreno pertence à União e deve ser cedido à istração estadual. Enquanto o Governo Federal ainda cobra garantias da gestão Tarcísio de Freitas de que os moradores, a serem realocados para a construção de um parque ou coisa que o valha, receberão contrapartida digna para moradia em outro local, Tarcísio já toca o higienismo e a gentrificação. Alguém duvida de que a “limpeza” do Moinho servirá à especulação imobiliária e resultará em um oásis para endinheirados?

      O Governo do Estado diz que mais de 80% da população da Favela do Moinho aceitaram a proposta da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), que inclui um auxílio-moradia provisório de R$ 800 reais, carta de crédito para quem quiser adquirir um novo imóvel e outras fantasias. Tarcísio imagina que uma família residente no Moinho possa construir vida em outro lugar com R$ 800 mensais. Ou então comprar um imóvel fora dali e ar o resto da vida pagando um financiamento generoso da CDHU.

      É possível que a maioria dos habitantes da Favela do Moinho tenha mesmo aceito a proposta indecorosa, mas em que condições? Os relatos são de ameaça e coação. No caso dos comerciantes locais, alguns ali estabelecidos há décadas, não há qualquer tipo de apoio – a ordem é fechar e virar-se. “A forma como estão tentando tirar os moradores daqui é injusta. Deixaram os comerciantes de fora e vou perder meu ganha-pão” reclamou à Folha de S. Paulo Edenildo Laurentino da Silva, de 40 anos, morador há 21 anos e há 10 proprietário de um minimercado no Moinho. 

      Dono de um bar na rua principal da favela e promotor cultural – ele ensina crianças a compor e a cantar –, Cláudio Celestino, conhecido como Chocolate, contou ao jornal da Barão de Limeira: “A polícia já invadiu meu estabelecimento quatro vezes, estourou a porta e me levou para a delegacia. Tenho mulher e três filhos para criar. Só vou sair daqui se tiver uma proposta viável”.

      O governador Tarcísio, por outras bocas, diz enxergar a Favela do Moinho como território do PCC. Se o problema para o governador e sua polícia fosse realmente a organização criminosa, seria mais coerente tratar a cidade inteira como “território do PCC”, que é o que de fato acontece, inclusive em condomínios de luxo no Tatuapé.

      No Moinho residem trabalhadores que vivem dentro e fora da lei, como em todas as comunidades carentes. Ali moram pessoas como Sandra Regina, que assim manifestou-se: “A gente não quer Bolsa Aluguel. Queremos moradia, de preferência por aqui mesmo. Queremos morar no Centro. Queremos o terreno para morar. Aqui no Centro temos escola, creche, mercado e hospital”. Ou como Harold de Araújo: “A proposta não é boa porque não é aceitável em lugar nenhum. Como vamos pagar um apartamento se não temos nem o suficiente para sobreviver?”.

      Se a sanha persecutória a pobres e negros e a volúpia pela especulação imobiliária, que desde sempre caracterizam as istrações paulistas e paulistanas, prevalecer mais uma vez, a Favela do Moinho repetirá da Favela do Buraco Quente.

      O Buraco Quente, na zona sul de São Paulo, foi removido entre 2012 e 2013 para construção da Linha 17-Ouro do Metrô (o famigerado “monotrilho”, ainda inconcluso), que liga o aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi. A obra fez parte de um conjunto de intervenções urbanas na região da Água Espraiada, incluindo a construção da Avenida Jornalista Roberto Marinho. A comunidade abrigava cerca de 200 unidades habitacionais - aproximadamente 400 famílias - que foram deslocadas.

      Aos moradores da Favela do Buraco Quente foram apresentadas duas opções: uma indenização de até R$ 120 mil por família ou um auxílio-moradia de R$ 400 mensais, com promessa de realocação em moradias da CDHU previstas para 2015. No entanto, muitas famílias enfrentaram dificuldades para encontrar moradia adequada e permaneceram em condições sub-humanas enquanto aguardavam a entrega das novas habitações. 

      A construção da avenida e do monotrilho que nunca fica pronto resultou em um processo de gentrificação na região, com a substituição da população de baixa renda por moradores de maior poder aquisitivo, contribuindo para a valorização imobiliária e a exclusão social. Pura especulação imobiliária patrocinada pelo Governo do Estado.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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