A derrota do nazismo: silêncio, resgates e comemorações
Entre nós, evitou-se tocar no assunto, como se sobre o mesmo pairassem minúcias constrangedoras ou acertos a ocultar
Um detalhe saltou aos olhos nas comemorações da derrota dos nazistas na II Guerra Mundial. O silêncio do Ocidente quanto às lutas e à vitória que, em l945, pôs fim ao cruel conflito. Entre nós, evitou-se tocar no assunto, como se sobre o mesmo pairassem minúcias constrangedoras ou acertos a ocultar. Enquanto isso, em Moscou, diante de uma plêiade de Chefes de Estado, recebidos um a um pelo principal dirigente da Federação Russa, de acordo com todas as regras da etiqueta, assistiu-se a um espetáculo para não esquecer. Ignorar o tema de algo que mobilizou tantas energias, incluindo a participação de soldados brasileiros, só pode apontar para algo de maior gravidade. Por um lado, sem dúvida, coincidimos com o ressurgimento da extrema direita pipocando na Europa, nos Estados Unidos e por aqui, não obstante, posto nas cordas, o bolsonarismo apresenta sinais de esgotamento. É assim que o planeta se divide, o velho e cansado mundo e o novo e milenar (!) Oriente com sintomas de revitalização.
Durante muito tempo, neste lado do hemisfério, diminuiu-se a intensidade da participação dos soviéticos que, na verdade, se excederam na Batalha de Stalingrado antes de expulsar os hitleristas e conduzi-los de volta a Berlim. Lá haviam perecido 23 milhões de combatentes. No lado de cá, não sem o heroísmo no desembarque do dia D, na Normandia, o número de baixas mal se ergue para as comparações. A Churchill, não agradava reconhecer que a União Soviética se fazia presente nas conversações de paz, tendo de itir a importância de suas ações. O então equilíbrio de forças se refletiu na influência de Moscou sobre vastos territórios no leste europeu, impossível de não se reconhecer. As demais potências se curvaram ao fato.
Que o sucesso dos empreendimentos contra os países do Eixo, Alemanha, Itália e Japão, deveria ser destacado com letras garrafais, não levanta dúvidas. Por que a Casa Branca assumiu uma atitude de reserva nas circunstâncias? Hesitações sobre a eficácia de suas contribuições ao tempo de Franklin Roosevelt? Custa-se a crer. O estadista norte-americano em sua biografia se revelou impecável: progressista e inteligente em cada um de seus movimentos, capaz de uma liderança inquestionável frente à gravidade dos eventos. É possível que o atual dirigente em Washington, DC, tema comparações que o ponham em posição desvantajosa. Acresce a isso, no que se refere ao continente europeu, a situação de subalternidade em que se situou nas últimas décadas, evoluindo para competição e indiferença por parte dos antigos parceiros.
Na história dos povos, grandes comemorações, com paradas militares e festividades, inscrevem-se na crônica de seus feitos. Furtar-se a elas aponta para lacunas ou teias de culpas, com repercussões nas ideologias de caráter defensivo. A partir de agora, diante dos acontecimentos, fica difícil de dizer que somos melhores, mais capazes e mais heróicos do que o resto dos nossos contemporâneos. Lula percebeu isso e lá está trocando saudações com Putin. Deve trazer de volta um pouco da aura vitoriosa que derrotou os nazistas. Fará bem para meter o nazibolsonarismo no lugar de onde veio e de onde nunca deveria ter saído.
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