A batalha de 2026 já começou e requer mais coragem
Precisamos acreditar que podemos submeter o capitalismo aos poderes do estado, ao invés de assistir ao desmantelamento do estado e conviver com o que sobrar
Elegemos o presidente Lula em 2022 por um fiapo de cabelo de sapo e sobrevivemos a uma tentativa de golpe de estado. No entanto a correlação de forças no Brasil pende forte para a direita e a extrema-direita, desde o golpe que destituiu Dilma Rousseff da Presidência. Aliás, o constrangimento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em deslegitimar os votos de mais de 54 milhões de brasileiros ficou explícito. Tanto que criaram esta saída casuística de condenar Dilma à perda do mandato, mas manter os seus direitos políticos.
Desde quando depam Dilma houve um paulatino desmantelamento do estado, um saque a ativos estratégicos, como o petróleo, com a mudança nas regras do pré-sal, a venda de refinarias e da BR Distribuidora. Teve a Ponte para o Futuro, reforma trabalhista, teve a Lava Jato, teve a venda da Eletrobrás, a pandemia e, não menos deletério, teve Bolsonaro.
Talvez um dos efeitos mais significativos e perigosos do golpe de 2016 tenha sido o fortalecimento do Poder Legislativo e o enfraquecimento do Poder Executivo. Com um sistema sofisticado e 'pouco transparente' de controle do orçamento da União, deputados federais e senadores foram conquistando cada vez mais poderes sobre o que o presidente da República decide. O Congresso ou a governar o país. E governou para a direita, para o abismo do neoliberalismo, assim como governa atualmente. Com a diferença que o presidente é Lula, que tem demonstrado uma habilidade política incrível para avançar minimamente numa agenda social, utilizando o estado como indutor da geração de emprego e desenvolvimento. Mas não é fácil.
Diante do poder acumulado e demonstrado pelo Congresso Nacional, que transformou o regime de governo do país para um semi-presidencialismo sem consulta popular, diante deste dado concreto de que um projeto de poder está indissociavelmente ligado à conquista da maioria das cadeiras da Câmara e do Senado, hoje muito mais do que nunca, é preciso refletir sobre o que o campo da esquerda está fazendo nesta direção.
Teremos em disputa 513 cadeiras na Câmara e 54 cadeiras nos dois terços do Senado que será renovado. Quem será o nosso exército de candidatos do campo da esquerda, do campo progressista? A eleição, que ocorre em outubro de 2026, já começou. A direita e extrema-direita têm agido, se articulado, tanto na política quanto na comunicação. Inclusive contando com apoio técnico de bigtechs como Google e Meta.
Sem apoio das bigtechs, com a dinastia do rentismo e com mídia corporativa fomentando a todo minuto o enfraquecimento do governo Lula, como os partidos políticos e as forças do campo popular vão mudar esta correlação de forças? Será adaptando suas bandeiras históricas para se parecerem com a direita? Ou será reafirmando e radicalizando suas bandeiras? Vamos reeleger Lula tolerando uma taxa básica de juros de 14,75% e um Banco Central independente? Vamos fingir que não estamos vendo a dívida de R$ 1 trilhão?
As forças políticas do campo progressista precisam nos fazer acreditar que podemos submeter o capitalismo aos poderes do estado, ao invés de assistir ao desmantelamento do estado e conviver com o que sobrar. Como disse o escritor João Guimarães Rosa, "o que a vida quer da gente é coragem". Sem preparar soldados suficientes para este campo de batalha do convencimento, das ideias por 2026, que já está em curso, corremos o risco de reeleger Lula e deixá-lo ainda mais nas mãos do centrão e da extrema-direita.
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